
Pois bem, nessas últimas horas dos dias venho refletindo um pouco mais sobre a minha profissão. Nem sei ainda se vem a ser a “minha profissão” porque ainda nem me formei, mas no caminho que vai seguindo acredito que não vou ser tão 'macho' para trocar por outra. Quero segurança, estabilidade e dinheiro para sair com os amigos no fim de semana e realizar o sonho da casa própria com a família feliz.
Eu já ouvi algumas histórias dizendo que existem vários tipos de profissão. Tem aquela que você faz por amor, aquela que você faz por dinheiro e aquela que você faz porque não tem nada melhor para fazer. É! Se fosse para identificar o que o jornalismo seria pra mim hoje, acho que é dinheiro e amor frustrado.
Eu ainda sou daquele tempo em que ética e a justiça tinham que ser em primeiro lugar. Queria ir para as ruas e lutar pelos meus direitos, poder mandar o chefe plantar batata se caso ele estivesse abusando do seu poder, queria denunciar as grandes e poderosas empresas por uma falta de conduta ética, moral e ambiental com a sociedade em que vivo, queria deixar a natureza respirar e ser livre . Mas a cada dia que passa eu me rendo aos pés do capitalismo. E acreditem , eu me sinto mal por isso.
Sempre que converso com alguém que já passou pela situação , ouço as mesmas respostas: “Isso é questão de tempo, você ainda é muito nova. Depois, quando você comprar seu carro novo e tiver o seu apartamento, tudo vai estar lindo de novo...”
Ai é que eu fico mais em pânico ainda! Como assim é questão de tempo? Ser nova quer dizer ser demente? Eu quero dormir em paz, quero paz de espírito.
Sou estagiária e gosto do que faço. As vezes percebo incoerências como em qualquer outro lugar em qualquer outra circunstância. Mas acredito que gosto do que faço porque existe a cultura no meio.
Ontem pesquisei o significado da palavra cultura e achei: arte, modo de cultivar. É isso! Modo de cultivar. Então eu quero cultivar conhecimento, sabedoria, opinião, críticas, evolução, debates, cultura. Acredito que a partir daí se inicia o processo de evolução da humanidade.
Também sou formada em teatro, fui professora por dois anos e as vezes ministro algumas oficinas. Queria poder me dedicar mais a isso, só que não tenho mais tempo. Queria me dedicar porque me sinto mais útil mostrado e ensinando a minha arte. Mas infelizmente o capitalismo que brota em mim não me fornece coragem o suficiente...
Minha última turma de alunos foi no sertão. Incrível como aquelas pessoas tem sede de conhecimento. Como eles dão valor a cada segundo de aula. Pra cada dia de oficina eu me sentia renovada. Mas essas coisas boas não podem durar muito tempo.
Volto para a minha realidade. O “ser jornalista” me tira do eixo. Já foi o tempo em que essa profissão era feita de maneira positiva. Já foi o tempo que nós, jornalistas, podíamos nos expressar sem nenhuma censura. E quando falo em censura não é governamental. É empresarial, estrutural, social e todos os “al” que você possa imaginar.
Mas ao escrever descubro que o jornalismo já está em mim. Não consigo mais produzir de forma livre, reviso o texto para não encontrar nenhuma palavra igual muito próxima, não gosto mas de usar os “seus, suas” e tudo mais. Procuro ser direta e objetiva e no início do meu texto eu já passo o lead.
Pois é, mocinha. Essa será a sua vida daqui pra frente. Então o que eu me digo é: não pense em nada agora. Mas faça o que quer fazer, cale até onde você pode calar e escreva até onde você possa escrever.
MJúlia
(imagem enviada por @Suami nessa fase tão cruel. Coube como uma luva!)

2 comentários:
Acho que uma hora você consegue encontrar um ponto de equilíbrio: achará algo no jornalismo que não te desagrade e que renda algo razoável para realizar o sonho da casa própria. Eu consegui chegar lá, estou trabalhando num lugar que gosto e ganho o suficiente para pagar a prestação do meu apartamento e as cervejas. Hoje só me falta encontrar uma maneira de exercitar a minha criatividade (espero que eu ainda tenha) e que, de preferência, traga algum complemento pro orçamento, pra eu comprar mais livros e gibis.
Esse ponto de equilíbrio me tira do eixo.
Mas sou forte. =)
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